Quando meu pastor não é o pastor Augustus Nicodemus

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Antes de mais nada, este texto, em hipótese alguma, é uma crítica ao reverendo Augustus ou, como dizem os jovens, recalque. É na verdade um reconhecimento do grande homem de Deus que ele é e como Deus o tem usado de forma poderosa para que a Palavra de Deus seja conhecida por muitos. Sei que isso se aplica a inúmeros pastores em nosso Brasil, mas estou usando o pastor Augustus neste texto como sendo esse representante. Assim, não posso começar este texto de outra forma que não seja agradecendo a Deus pela vida desse pastor que teve um grande impacto na vida de tantos irmãos e particularmente em minha época de seminário. Deus o abençoe, pastor!

Vamos agora ao texto.

Quando pessoas novas chegam na igreja, eu costumo brincar que faço a pergunta que Deus faz ao Diabo no livro de Jó: “De onde vens?” E nessa conversa, pergunto como aquela pessoa conheceu a igreja. Não tenho um número exato, mas inúmeras vezes a resposta obtida é: “Eu escutei alguns sermões do pastor Augustus Nicodemus na internet e decidi visitar uma Igreja Presbiteriana.” Algumas dessas pessoas,  depois de falar isso, perguntam se tem algum problema, ao qual eu prontamente respondo: “Apenas se você espera que eu pregue igual a ele.”

Agora, some o fato do alcance que a Internet tem, os sermões de pastor Augustus tem sido escutado por milhares (talvez milhões) de pessoas mundo afora. E tem sido uma porta de entrada para incontáveis pessoas para a fé verdadeiramente bíblica (e louvado seja o bom Deus por isto!)

Mas…

Algumas vezes esse irmão que escuta frequentemente o pastor Augustus é edificado pelo que escuta, vai à sua igreja e quem ele escuta lá não tem a mesma habilidade de pregar, de interpretar o texto bíblico, de aplicação. E isso acaba frustrando muitas pessoas, pois entendem que não foram edificadas plenamente naquela manhã/noite. Uma realidade que já conversei com vários a respeito. Então, decidi compilar alguns argumentos que uso para com esses irmãos na expectativa que isto venha a servir a você também.

Tenha paciência com seu pastor

 No momento em que escrevo este texto tenho 40 anos sendo desses 40, 18 dedicados exclusivamente ao ministério pastoral. Tive inclusive o privilégio de ter o pastor Augustus como meu professor em uma cadeira por um semestre em Recife. No meu tempo de seminário (2001-2004), nossa cadeira de pregação não eram exposições nos livros da Bíblia, mas sim aprendemos a fazer sermões temáticos, biográficos, pastorais…

Foi justamente na virada deste século que o movimento reformado começou a ganhar um pouco mais de notoriedade no Brasil com a chegada de livros, pastores que estudaram fora, entre outros fatores. Acredito que o horizonte que temos diante de nós será extremamente brilhante no que se refere à fé bíblica, pois agora temos uma base incomparavelmente maior do que há 20 anos atrás.

A possibilidade de seu pastor (se ele tiver mais ou menos o mesmo tempo de ministério que eu) não ter aprendido exposição bíblica é muito grande, e como diz o ditado “ensinar truque novo a cachorro velho, não é fácil.”

Portanto, tenha paciência com ele. Estimule-o, chame-o um dia para ouvir um sermão do pastor Augustus junto com você, comente o sermão com ele. Dê de presente a  ele livros sobre o assunto, fale com o conselho ou assembleia de sua igreja para ver a possibilidade de pagar um curso de aprimoramento para o pastor; acredite, é um dinheiro muito mais bem investido do que em qualquer reforma que possa ser feita.

Estimule e não simplesmente critique. Veja o contexto que ele veio e em amor, veja como podemos ajudar o pastor a ser um instrumento ainda melhor nas mãos de Deus para a vida daquele rebanho.

Saiba que a realidade de seu pastor é diferente

 Não me refiro a pastores que desempenham suas funções de forma inadequada ou preguiçosa, mas a valorosos homens de Deus que além de pregar 2-3 vezes por semana, tem que visitar, aconselhar, ir para enterros, reuniões de senhoras, de jovens, dar aula em uma escola, tomar conta de sua família e em muitos casos, até abrir e fechar a igreja.

O tempo de preparo do sermão de seu pastor talvez seja extremamente diminuto. É fácil para nós falarmos que a “pregação é a coroa do ministério pastoral“ e que, portanto, o pastor deve ter um tempo muito maior para preparar o seu sermão. Lógico que concordo com isso e tento ter um tempo considerável para os preparos dos meus sermões. Mas também somos rápidos em reclamar de nossos pastores quando eles não visitam, não dão estudo aos jovens, não têm tempo para aconselhar…

Se o seu pastor for diligente com o ministério pastoral, encontrar tempo para ser excelente em tudo talvez seja sua maior luta, e acredite: ele se preocupa com isso e consegue enxergar suas falhas. Quantas vezes eu mesmo me sentei para estudar o sermão e tive que lidar com crises de pânico, pessoas que se acidentaram ou simplesmente uma filha que ficou doente e não foi para a escola!

Insisto: não estou defendendo baixar as expectativas ou dizer que seu pastor é um coitadinho; apenas saiba que ele está lidando com muitas coisas ao mesmo tempo. Ajude-o nisso, pergunte se ele tem se exercitado, dormido bem, passado tempo com sua família, se ele está passando por algum problema e sempre ore por ele e, quando possível, com ele.

Você não está na sua igreja para ouvir o pastor Augustus (Ou mesmo em sua casa)

Nosso desejo deve ser sempre o de querer ouvir a Palavra de Deus sendo exposta com fidelidade de amor para que o Espírito Santo falando através das Escrituras penetre o nosso coração como espada afiada que é. Não é o pregador que faz isso, mas o Santo Espírito de Deus.

Escutamos os nossos pastores para ouvir a voz Deus, a voz de nosso Supremo Pastor ( I Pedro 5:2), tenha sempre isso em mente quando for ouvir um sermão, qualquer sermão. Claro que infelizmente vamos ouvir sermões que falam coisas erradas e até mesmo heresias e devemos rejeitá-las examinando a Palavra com atenção; mas a nossa disposição ao ouvir qualquer sermão é de querer ouvir Deus sendo exaltado em Cristo através de sua Palavra exposta.

Sigo até hoje um conselho de um experiente pastor que quando eu o perguntava como tinha sido a pregação que ele foi ouvir ele respondia: “Não era o que eu queria ouvir, mas era o que Deus tinha para mim neste dia.” Eu peguei essa frase para minha vida. Pois ele não dizia isso porque ele foi confrontado. Na verdade, era uma maneira santa de dizer que o sermão não foi muito bom, mas que ele ainda reconhece que Deus falou com ele naquele momento. É dessa forma que você deve se aproximar aos domingos na Igreja, não para ouvir o pregador, mas a mensagem.

Ele não precisa ser igual ao pastor Augustus

Uma das belezas do Cristianismo é justamente a diversidade que podemos ter na uniformidade bíblica. Podemos ter pastores que têm estilos diferentes de pregação, perspectivas diferentes, tempo diferente de pregação, número de aplicações entre outras coisas, sem abrir mão da verdade inerrante e infalível das Escrituras.

Costumo dar um exemplo aqui em minha igreja: o de dois pregadores do Antigo Testamento, Jeremias e Jonas. Jeremias tem alguns dos sermões mais bonitos da Bíblia inteira! Acho virtualmente impossível ler um texto como Jeremias 18 e não se arrepiar. Contudo, quando lemos o livro com atenção vemos que não há relato de arrependimento até a invasão de Nabucodonosor em Jeremias 52. Sermões incríveis, mas que na Santa providência de nosso Deus, encontrou corações duros e foram devidamente ignorados.

Avance agora para Jonas. Jonas prega um sermão fiel em Nínive, afinal ele prega o que Deus manda ele pregar (Jonas 1:1, 3:2); mas como ele prega? Ele prega o que chamo de sonho de todo pastor preguiçoso: O sermão tinha apenas uma linha (“Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída” – Jonas 3:4), pregado correndo, sem aplicações práticas. O resultado? Mais de 120 mil pessoas foram poupadas do julgamento divino e muitos, talvez todos, se arrependeram de seus pecados (Jonas 3:5-10).

Tenho certeza que o desejo de todo pastor sério é pregar como Jeremias e ter o resultado de Jonas, mas aprouve Deus usar ambos com propósitos distintos e resultados distintos, mas ambos foram fiéis ao chamado de pregador (pontuo que me refiro à pregação de Jonas e não à sua desobediência prévia ou de sua reação ao ver o que Deus fez a Nínive!).

Existe problema em gostar mais de um estilo de pregação ou até mesmo de um pregador em particular? Claro que não! Mas entender que Deus na sua providência deu talentos diferentes para diferentes pessoas para sermos abençoados pelo mesmo Senhor e Pastor de nossas almas, Cristo Jesus. O pastor não é o ponto principal, mas a mensagem que é pregada. O que nos leva ao nosso último ponto.

Nós sempre teremos o pastor Augustus

Anos atrás ouvi um sermão do já falecido pastor Lloyd Jones que foi gravado em fita e colocado na internet. Imagine então saber que teremos em nossas mãos os áudios, vídeos, podcasts, livros do reverendo Augustus para mostrar para os nossos filhos e netos no futuro? Isso é uma bênção sem medida! Não são todos os homens que têm capacidade ou até mesmo foram chamados para deixar um legado assim tão grande.

Muitos pastores acham que foram chamados para ser o próximo Augustus, e que na verdade o próprio pastor Augustus é superestimado: “não é isso tudo que dizem”.

Meu pensamento, como espero ter ficado ilustrado neste texto, é que precisamos de homens como o reverendo Augustus, com alcance grande, grande habilidade, para ser um instrumento poderoso nas mãos de Deus para que o nome desse Deus seja anunciado com força e vigor.

Contudo, Deus sempre vai usar os seus pastores não tão inteligentes, não tão preparados, que talvez nunca terão o prestígio e a visibilidade de um pastor Augustus, mas são crentes fiéis que buscam fazer o trabalho desse Deus da melhor forma que está em seu alcance, pastoreando as ovelhas que o Senhor concedeu a elas, pregando com a melhor de suas habilidades, para no fim ouvir de Jesus: “servo bom e fiel”.

Assim, agradeça e ore com força e vigor para que Deus sustente o pastor Augustus firme e fiel, e ore com ainda mais força, ainda mais vigor pelo seu pastor que nunca será Augustus Nicodemus Lopes, mas é um instrumento nas mãos do redentor para comunicar o precioso evangelho de Cristo Jesus.

Em Cristo,

Pr. Léo

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