As dificuldades do pastorado
Segunda-feira é um dia que tento (nem sempre consigo) pegar leve, como uma tentativa de dia de folga. Nesse dia eu evito tocar em livros teológicos ou marcar reuniões. Fico pensando no domingo, no que eu preguei ou ouvi, nas conversas que tive e na beleza que é a igreja. Contudo segunda também é um dia pesado, pois nem sempre os seus próprios feedbacks são positivos. O domingo pode ter sido mais desgastante que o normal, as vezes até dores no corpo, rouquidão, são coisas que vão nos atingir nesse dia e, eventualmente, desânimo e até pensamentos de desistir. Uma prova simples disso é uma conta de um pastor no Twitter/X que toda segunda simplesmente escreve “Pastores, não desistam. Pegue leve, pratique um esporte, tome o seu café e evite tomar decisões mais sérias.”
Ironicamente nesta mesma rede social, me deparei com um texto chamado (em tradução livre) “Partida: Porque eu saí da igreja” por Alex Lang. Ele não é um pastor conhecido ou famoso e foi justamente o fato dele ter escrito sobre isso que me chamou a atenção pois poderia ser apenas mais um pastor que desiste do pastorado como acontece frequentemente no mundo.
Mas eu preciso confessar que este texto ficou na minha cabeça, martelando, nem eu sei o direito o motivo, mas senti o desejo de escrever sobre isso, não como um tipo de contra argumento ou refutação, mas apenas comentar os pontos que ele levantou por alguém que tem lutado nesta vocação a 19 anos.
Antes entendo ser necessário evidenciar algumas coisas:
- O pastor do texto que mencionei é um pastor da PCUSA (Presbyterian Church of United States of America), que apesar de ser presbiteriana, é uma denominação que já se desviou das verdades fundamentais da Bíblia a muito tempo. Contudo, para fim deste texto isso não será relevante, pois não está em julgamento a doutrina do pastor ou da igreja, apenas os argumentos levantados por ele do porque ele desistiu dessa vocação. Acredito que isso tem um peso? Com certeza, mas para esse texto isso não será levado tão em conta.
- Aqui não estou tentando mostrar “A” verdade ou “A” realidade pastoral, apenas compartilhar um pouco a realidade de um pastor presbiteriano que começou sua vocação cedo (fui ordenado aos 22 anos de idade e hoje tenho 41) e que sempre trabalhou no Nordeste do Brasil, mais especificamente Pernambuco e Piauí e que está à frente da mesma igreja a 12 anos consecutivos.
A grande resignação de pastores
Antes de falar de sua decisão, o autor comenta uma pesquisa feita pelo Instituto Barna feita em 2022 com pastores, onde 42% deles consideram desistir do ministério e as razões são:
- O imenso estresse do trabalho: 56%
- Sinto-me sozinho e isolado: 43%
- Divisões políticas atuais: 38%
- Estou insatisfeito com o efeito que esta função teve na minha família: 29%
- Não estou otimista quanto ao futuro da minha igreja: 29%
Cada ponto desta pesquisa merece um comentário ou um texto por si só, mas seguirei na proposta de analisar o que ele descreve. Todo pastor já experimentou todos estes pontos acima em graus maiores ou menores, e para o autor os dois primeiros foram os que mais pesaram na decisão de sair do pastorado.
Vejo a necessidade de comentar algo que vi muito nos comentários sobre o texto em questão, que é o fato de que todas essas razões se aplicam basicamente a toda profissão e vocação possível (como, por exemplo, pai e mãe). E sim, eu concordo com isso, mas entendo existir uma diferença fundamental, se considerarmos a doutrina da vocação pastoral, pois o pastor deve entender que foi chamado por Deus para esta função! Enquanto que qualquer outro trabalho pode ser dito que a pessoa escolheu ser aquilo, mediu as vantagens e desvantagens e seguiu adiante.
No caso de um pastor, ele entende que sendo vocacionado por Deus para tal, se ele não cumprir bem o seu papel, além de tudo acima que será explorado neste texto, acrescenta-se o fato dele estar fazendo o trabalho de Deus de forma não ideal; e sendo ele uma pessoa crente, talvez seja este o maior peso que ele venha enfrentar e este pesado fardo permeia todas as razões acima pontuadas.
As pessoas e suas histórias
Boa parte do imenso estresse da vida do pastor vem do fato dele conhecer e acompanhar pessoas em seus picos e vales. Histórias de sucesso, lutas, dores, fracassos e como essas histórias com o tempo vão pesando na vida de um pastor de formas que ele nem percebe.
É simplesmente impossível negar este fato. Você pode tentar olhar por qualquer ângulo, mas você se preocupar com suas ovelhas sempre será algo que vai pesar. Um exemplo simples disso é você olhar o que Paulo diz em II Coríntios 11:23-28:
“São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas.” (ênfase minha)
Paulo coloca o peso da preocupação com as igrejas no mesmo pé de apedrejamento, prisões e chicotadas! O bom trabalho pastoral invariavelmente vai cansar o pastor em sua labuta. Ele vai lidar com quase todo tipo de pecado que você pode encontrar na Bíblia como adultérios, abusos, vícios, ansiedade, suicídios. E por muitas vezes são pessoas que chegam em sua frente em lágrimas clamando “me ajude!”. É uma cena dura, pesada! Em meu caso, às vezes, fico imediatamente com dor de cabeça ouvindo alguns irmãos.
E nisso, entra o detalhe que talvez muitos pastores vão concordar: o problema é que você não deixa os problemas dos outros em seu gabinete pastoral. Eles vão seguir onde você estiver. Depois de ouvir um irmão, seu coração vai ficar triste (e deve), mas você ainda vai ter sua filha de 5 anos que vai querer fazer tarefa com você ou triste porque a boneca dela rasgou o vestido. Eles vão ocupar seus pensamentos na hora de dormir, por incontáveis vezes tirando o sono naquela noite e permeando todos os seus pensamentos.
Em alguns desenhos antigos, quando um personagem tinha uma fome muito grande, ele olhava para um outro personagem e o via como um pedaço de presunto ou linguiça. Certa vez, ao subir no púlpito de minha igreja, como um flash, olhando minha amada igreja, o que vi foi semelhante a estes desenhos, mas ao invés de serem como alimentos, eu via os problemas sobre a cabeça de cada um deles. Aquele momento, por mais breve que tenha sido, foi aterrorizador! Como pode uma centena de pessoas ter tantos problemas e “quem tem que lidar com isso sou eu!”
Desistir então seria a única saída? Não! Graças ao bom Deus que não.
Se não vigiarmos o nosso coração, vamos ter sim a tendência de olhar mais para as lutas e dificuldades do que as alegrias e as bonanças em nossas ovelhas. E acredite, elas estão lá sim! Acredito ser este o segredo de Paulo, o mesmo que comparou a preocupação com as igrejas com chicotadas, ao escrever os textos abaixo:
Primeiramente, dou graças a meu Deus, mediante Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque, em todo o mundo, é proclamada a vossa fé. Romanos 1:8
à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 1 Coríntios 1:2
Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todas vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. Filipenses 1:3-5
Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar, recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição, 1 Tessalonicenses 1:2-4
E o que eu entendo ser o mais bonito:
Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação; se somos confortados, é também para o vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando vós com paciência os mesmos sofrimentos que nós também padecemos. A nossa esperança a respeito de vós está firme, sabendo que, como sois participantes dos sofrimentos, assim o sereis da consolação. 2 Coríntios 1:6,7
Qual o segredo do pastor Paulo? Ele está ignorando as preocupações e os problemas da igreja? Claro que não! Ele apenas guarda firme em seu coração que suas ovelhas, antes de qualquer coisa, são amadas do Senhor Jesus Cristo e que a identidade delas deve repousar justamente nisso! Para Paulo, a vida de suas ovelhas é maior que seus problemas, pois quem habita nelas é o Santo Espírito de Deus, por causa do trabalho do Filho que executou o que o Pai ordenou. Paulo vê na igreja uma viva carta de quem Deus é o que ele fez pela sua igreja, para deixá-la “sem mácula e sem defeito”. As conquistas, transformações, bênçãos agraciadas a estes irmãos é justamente o que Paulo usa para se alegrar com eles e por eles e continuamente interceder e dar graças a Deus pela vida deles.
Digo que o texto de II Coríntios 1:6,7 é o mais bonito justamente pelo seu contexto. Uma igreja que estava justamente questionando a autoridade do apóstolo e antes mesmo de entrar nesse assunto, Paulo mostra àquela igreja como ele os vê, como uma igreja que participa dos sofrimentos, assim também participa do conforto! Que bênção!
Um amado pastor que me tutelava e hoje já descansa nos pastos do Supremo Pastor me falou certa vez que “ser pastor é você carregar a ovelha no colo e ela fazer suas necessidades em cima de você”. Mas, ele acrescentava, “estas ovelhas foram resgatadas pelo preço do sangue de Cristo; vale a pena.” Nossos irmãos e ovelhas, por conta de Cristo, são maiores que os seus problemas, como pastor eu devo lembrar isso a elas (e me lembrar também), para que a esperança do conforto seja certa tanto para elas como para o pastor.
As histórias pesadas, pecaminosas, tristes inevitavelmente nos afetam, mas se pensarmos como Jesus, ao falar em João 16 que “depois de ter dado à luz a criança, a mãe já não se lembra da aflição”, veremos o sofrimento como um instrumento para atingir a verdadeira alegria em Cristo Jesus.
A quem o pastor responde?
Seguindo o texto que mencionei, o pastor que saiu do pastorado comenta como o pastor tem “mil chefes”, ou seja, que todo mundo da sua congregação pensa e age como se o pastor fosse um empregado da igreja ou que é apenas mais um na congregação. O próprio pastor sabe que é impossível agradar todo mundo, mas afirma que isso pesa.
Em minha leitura do texto, esta foi a seção menos interessante, pois enquanto lia, me lembrava das palavras de Pedro em sua epístola quando ele diz:
Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. 1 Pedro 5:4
Quem governa em nossas vidas, nosso Supremo Pastor é Cristo e é ele que nos tem nas mãos como nos lembra João em Apocalipse 1 e ele que nos dará a coroa da glória. Contudo, a última frase desta seção foi a que mais fiquei pensativo em todo o texto, pois o autor questiona “Será que liderar a igreja realmente vale o investimento se é isso que vou receber em troca?”. Por isso ele se refere justamente ao que foi referido até aqui.
A pergunta que ele fez não me deixou com raiva dele, não me fez pensar que o pastor não deve governar com “sórdida ganância mas com boa vontade”. A pergunta dele me fez refletir sobre o meu pastorado. Eu vejo a igreja como um investimento? Como algo que tem seus prós e contras e calcular bem para ver o que posso receber ou que tenho recebido?
Com isso não estou questionando aspectos de pastor merecer receber suas côngruas ou pensar bem antes de aceitar convites para aceitar o pastorado de uma igreja ou não. Meu questionamento é com relação à pergunta dele, que é a pergunta dele que é “vale o investimento à luz do que vou receber?”
Eu só posso imaginar se nosso Supremo Pastor fizesse esta pergunta. O que vou receber em troca? Vale a pena? Nós sabemos a resposta! Lógico que não valeria! Quem perfeito daria a vida por pecadores e em troca ainda seria negligenciado, negado por aqueles que a quem Ele mesmo deu a vida? O que torna Cristo único é que ele é o Servo Sofredor, Aquele que como Rei, pergunta “o que queres que eu te faça?” para cegos no caminho.
Sei que nenhum pastor consegue dar a sua vida pelas suas ovelhas, afinal, Ele é unicamente o Supremo Pastor de nossas almas. Mas devemos ter esse mesmo espírito como pastores auxiliares deste Pastor, pois não é sobre o que vamos receber, mas como vamos servir. Abordarei no fim deste texto algumas aplicações para a igreja com relação a essa questão, mas foi esse pensamento que me deu perspectiva para permanecer e servir na igreja em que tenho servido como pastor e entendo que é esse o mesmo espírito que fez a igreja servir por milhares e milhares de anos em missões para a Glória de nosso bom Deus, por exemplo. Não é sobre o que eu vou receber, mas sobre o que eu já recebi e como posso servir.
Expectativas não realistas
Não vou tentar explicar o contexto de como uma pessoa pode chegar ao pastorado nas Igrejas Presbiterianas nos EUA, mas vou explicar como é este processo de forma regular aqui no Brasil para aí então falar em expectativas não realistas.
Para um homem ser pastor na Igreja Presbiteriana do Brasil ele precisa:
- Ser analisado por um conselho ou pastor e, assim, ser enviado ao presbitério onde ele será examinado em sua vocação.
- Se aprovado, ele então se torna “Candidato ao Sagrado ministério” e então é enviado ao seminário. As condições do envio, no que diz respeito ao suporte financeiro dele, variam bastante de região para região, mas de forma geral, é um suporte mínimo para que ele tenha o básico para sustentar sua família;
- O curso no seminário dura quatro anos. Ele terá entre 8-12 matérias por semestre com matérias como português, teologia sistemática, pregação, aconselhamento, idiomas originais (grego e hebraico) entre tantas outras.
- Se aprovado em todas as matérias nesses quatro anos ele conclui o curso, apresenta uma monografia defendendo um ponto da Confissão de Fé de Westminster e uma exegese em um texto bíblico para o presbitério que o enviou.
- O presbitério então analisará os trabalhos acima, sua pregação e convicções teológicas em uma reunião do presbitério.
- Se aprovado em tudo, o candidato então é ordenado ao Sagrado Ministério e assim tem um campo designado para ele.
Diferente do que possa ser em outras denominações, é um percurso árduo de quatro anos, provas e análises para que um homem seja pastor na Igreja Presbiteriana do Brasil. Não é simplesmente alguém dizer “quero ser pastor”.
Passado por todo esse processo e, então, sendo pastor, este indivíduo chega em uma igreja, qualquer igreja, e a questão é: o que as pessoas esperam dele? Mais uma vez, lembro que me refiro a exemplos regulares e não específicos como ser professor ou capelão.
Na igreja espera-se que este pastor seja:
- Um bom pregador
- Um bom conselheiro
- Um bom administrador da igreja
- Presente em todas as reuniões e eventos
- Celebre casamentos, funerais e batismos
- Em vários lugares, que ele abra e feche a igreja.
- Seja um pilar de virtude, pois cada passo que der será escrutinado.
Não será nada fácil, pois muitas destas atividades dependem de muitas horas de estudo e preparação e em muitos momentos o pastor estará sozinho nestas atividades. E a expectativa de uma igreja é que ele faça tudo isso em alto nível! Que ele pregue como Augustus Nicodemus, aconselhe como Jay Adams, administre como Jack Welch, se locomova como a Hermione com o vira-tempo, seja fotogênico como um modelo e saiba a Bíblia decorada.
Claro que estou sendo hiperbólico nas considerações, mas há um grau de verdade no que concerne a expectativa de membros da igreja e alguns, não muitos, irão prontamente reclamar se um ou alguns desses pontos não forem executados com perfeição. A pressão em cima de um pastor pode ser excruciante, pois no longo prazo ele não vai conseguir equilibrar todos estes pratos e definitivamente vai precisar de ajuda para todas essas atividades. O que leva o autor a colocar a questão em números.
O famigerado salário do pastor
Não custa lembrar que estou trabalhando com situações regulares e em alguns casos, porque não, ideais. Olhando para essas expectativas, quanto deve ser o salário do pastor (sim sei que tecnicamente o certo é côngruas e que não existe vínculo empregatício)?
Saliento que o que não é uma escada de comparação entre profissões, nem muito menos entendo que um pastor deve almejar como objetivo ministerial a riqueza. A comparação que irei fazer a seguir ilustra muito bem um ponto que a Bíblia ensina. Sei muito bem que existem exageros por parte de lobos que se intitulam pastores e querem se alimentar das ovelhas, como bem alerta Deus Pai em Ezequiel 34 e Deus Filho em João 10, e que eles serão julgados diretamente pelo Pastor de Israel (que eles se arrependam de seus pecados!)
Qual comparação? Dei uma breve pesquisada para ver quanto ganha um palestrante motivacional para uma empresa, e alguns valores chegam a centenas de milhares de reais por palestra, mas de acordo com um site especializado, a média por palestra é de R$6.000,00 a R$8.000,00 por palestra. Veja bem, por palestra! Longe de mim dizer o que merece ou não merece ser pago; trata-se apenas de uma comparação.
Volto a perguntar, com tantas expectativas depositadas em um pastor e na quantidade de atividades que ele precisa desenvolver (muito maiores que dar apenas uma palestra), qual o salário justo para ele? Não existe uma resposta correta, pois muitos fatores vão colaborar para tal, como região, arrecadação da igreja, entre inúmeras outras coisas. Mas garanto a você que no Nordeste, esse salário médio por palestra chega a ser o dobro em vários casos do que um pastor ganha por mês. Sites sobre profissões dizem inclusive que pastor é uma das profissões mais mal pagas, com salários médios em torno de R$2.000,00 por mês, fazendo assim com que muitos colegas de ministério tenham uma outro trabalho para poder complementar sua renda. Qual o ponto que a Bíblia ilustra bem sobre isso? Vejamos alguns textos bíblicos:
Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui. Gálatas 6:6
Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. 1 Timóteo 5:17
Para Paulo, escritor dos dois versículos acima, o ponto é muito simples: um pastor deve ser bem remunerado, pois ele é aquele que está ensinando e pregando o que você literalmente vai carregar por toda uma eternidade.
Estou, então, dizendo que as igrejas devem pagar salários a seus pastores? Não. Que devem pegar empréstimos ou se endividar para pagar os seus pastores? Não. Que pastores então devem fazer greve e exigir melhores pagamentos? Não. Que pastores podem, então, fazer um trabalho ruim no campo e não expor o evangelho com fidelidade? Sob hipótese alguma!
O autor do texto original salienta bem que é uma profissão que em média paga mal tanto para o que ele, pastor, treinou como para o que ele executa. Sei que sou suspeito, mas preciso concordar. O trabalho de um pastor como visto no ponto anterior, é um trabalho a respeito do qual se espera muito e que ele, o pastor, espera entregar muito também. Executando esse trabalho bem, o beneficiado disso estará ainda mais equipado para servir a Deus com força e vigor levando, assim, isso para toda uma eternidade e por melhor que um pastor venha a receber, isso aqui vai ficar. Então um equilíbrio se torna necessário, assim como olhar para nossos pastores como pessoas que se afadigam conosco e por nós, à semelhança de nosso Grande Pastor, Cristo Jesus.
Aplicações finais
Eu não conheço esse pastor do texto, e à luz de alguns detalhes no texto que ele escreveu, que entendo não caber aqui por não ser parte do escopo do texto, nem sei se ele é um pastor fiel às Escrituras. Alguém poderia argumentar que ele sair do ministério é até um favor, e posso até concordar com isso. Contudo, os pontos levantados por ele ressoam não apenas em mim, mas em todos os pastores. O estresse de alguns deles se assemelha ao de pessoas com stress pós trauma e o índice de abandono e mesmo suicídio entre pastores tem sido preocupante. Aqui então gostaria de deixar uma mensagem final tanto às ovelhas como aos pastores.
Às ovelhas: ajudem seu pastor. Ore por ele e quando der, com ele. Pergunte se ele está precisando de algo. Se você perceber que seu pastor está dando sinais de cansaço o lembre quem está por ele, inclusive no partir do pão.
Eu passei por uma fadiga extrema ou burnout alguns anos atrás. Foram dias extremamente difíceis para mim e para minha família, mas com frequência, recebia não apenas mensagens de minhas ovelhas de simplesmente: fique bem, pastor. Assim como bolos, cookies e outras deliciosas guloseimas que me ajudaram a lembrar que a vida é muito maior que meus problemas e sentimentos, pois a minha vida é Cristo e por conta dEle faço parte de um perfeito corpo composto por pessoas imperfeitas.
Ovelha, invista em seu pastor, não apenas em questão salarial, mas em treinamentos, livros. Isso é algo que vai voltar para você em grande medida. Insisto em lembrar que me refiro a pastores sérios e dedicados ao campo que podem ser instrumento de bênção para você, seus filhos e até seus netos. Já imaginou?
Seu pastor não é perfeito por nenhuma medida que você queira usar, mas Deus o chamou para ser o seu pastor. Para zelar por você, confortar você, chorar com você, pregar, confrontar seus pecados. Ajude-os em suas lutas. Lembre-se que os problemas que tem, ele nem pode compartilhar com você, pois envolve outras pessoas da igreja, pode acreditar! Assim sirva seu pastor no que puder, nem que seja uma noite de ficar com seus filhos para ele sair com sua esposa, ou o ajudando em suas férias. Enfim, não sei, mas se o sentimento de solidão é uma das principais causas que levam um pastor a pensar em desistir, lembre a ele que esta luta ele não está, nem nunca estará, enfrentando sozinho.
Aos pastores, meus colegas de ministério: eu não quero aqui dizer a você faça isto ou aquilo, isto geraria um outro texto! Como relatado ao longo de todo este texto, temos diversos desafios e pesadas expectativas sobre nossos ombros, mas por mais clichê que possa ser, olhe e medite sempre na verdade do Evangelho!
Não somos pastores por causa de pessoas mas por causa de Cristo! Se ele nos chamou para esta vocação, ele nos sustentará também! Não tenha vergonha de pedir ajuda, evite as redes sociais e se lembre de um passado em que muitos homens de Deus se cansaram de toda forma e nunca tiveram um resultado grande, mas hoje estão colhendo o resultado dAquele que venceu por nós ao qual nós auxiliamos aqui, em nosso ministério.
Gosto muito de uma frase que resume para mim muito bem o pastorado e deixarei aqui para todos nós, seja para ver as dificuldade intrínsecas do pastorado, seja para saber qual o prêmio que o pastor deve almejar:
Os labores do ministério esgotarão a medula dos seus ossos, apressarão a velhice e a morte. Eles estão bem ajustados em comparação com a labuta dos homens na colheita, aos sofrimentos de uma mulher em trabalho de parto, e às agonias de soldados na extremidade de uma batalha. Nós temos de vigiar quando os outros dormem. E, de fato, não é tanto o custo dos nossos trabalhos, como o desprezo deles, que nos mata. Não acontece conosco como acontece com outros trabalhadores: eles acham seu trabalho como o deixaram, mas nós, não. Pecado e Satanás bagunçam quase tudo o que fazemos. As impressões que deixamos sobre as almas do nosso povo num sermão, desaparecem antes do próximo […] Sim, temos de lutar em defesa das verdades que pregamos, bem como estudá-los até ficarmos pálidos, e pregá-las até ao ponto de desmaiarmos. Receberemos peitos doloridos, dores nas costas e pernas trêmulas. Mas, se pudermos, por todos os meios, ser aprovados como servos fiéis de Cristo, ouviremos aquela voz saindo da sua boca: ‘Muito bem, servo bom e fiel.‘”…
Que sejamos então servos bons e fiéis, não desista!
Em Cristo, nosso Pastor,
Pr. Leonardo Oliveira